Esbjörn
Svenson
Morreu Esbjörn Svenson,
um dos mais importantes pianistas de Jazz da actualidade. Músico carismático, ganhou projecção
internacional em 1997 quando editou Esbjörn Svenson Trio Plays Monk, embora
ele fosse por essa altura já bastante conhecido na Suécia e
este fosse realmente o seu terceiro disco.
A
abordagem muito original do universo de Thelonious Monk, onde o Jazz parecia
por vezes namorar a
música clássica e a pop music, mereceu
reconhecimento unânime por parte da crítica especializada e
do público. Mas os anos seguintes levariam o trio de Svensson a um
estatuto de verdadeira banda pop. Sucesso de vendas na Europa e no Japão,
o EST veria a sua arte reconhecida também nos Estados Unidos quando
foi capa na Down Beat em 2006. São inúmeros os prémios
internacionais arrebatados, entre grammys e votações da crítica.
O
Esbjörn Svenson Trio era composto ainda por Dan Berglund (contrabaixo) e Magnus
Oström (bateria).
Com o tempo o
nome do grupo passou a EST, o que
correspondeu bastante à transformação que se operou
na sua música, onde os outros lados do triângulo ganharam importância.
O que era um tradicional combo de Jazz foi introduzindo toda uma parafernália
pop (fumos, luzes, efeitos media) ao mesmo tempo que a componente rítmica
da música se ia acentuando, e a electrónica e o hardware ganhavam
espaço.
Uma dezena de discos
editados, vídeos e DVDs atestam a ascensão
fulgurante de uma banda que marcou a última década.
Os
EST tocaram em Portugal por diversas vezes e tinha um concerto agendado para
a Casa da Música para Dezembro próximo.
O
desaparecimento prematuro de Esbjörn Svenson vitimado por um estúpido
acidente de mergulho deixa um importante lugar vazio no Jazz.
16 Junho 2008
DISCOGRAFIA EST
1996 When Everyone Has Gone -CD Dragon
1996 Mr. & Mrs. Handkerchief (live) - CD Prophone
(2003 E.S.T. Live 95 - CD High Note)
1997 Esbjörn Svensson Trio Plays Monk – CD ACT
1998 Winter in Venice - CD ACT
1999 From Gagarin's Poingt Of View – CD ACT
2000 Good Morning Susie Soho – CD ACT
2001 A Strange Place for Snow – CD ACT
2001 Somewhere Else Before – CD Sony Music
2003 Seven Days Of Falling – CD ACT
2005 Viaticum – CD ACT
2006 Tuesday Wonderland – CD ACT
2007 EST Live in Hamburg – 2CD ACT
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A clássica forma de trio piano-baixo-bateria permanece uma das mais
estimulantes fórmulas do Jazz actual. De entre os inúmeros exemplos
que poderíamos apresentar para ilustrar a vitalidade da fórmula,
gostaria de assinalar quatro que, pela singularidade e pela estabilidade dos
seus membros, me merecem atenção. Começo obviamente por
referir o trio Standards de Jarrett-Peacock-DeJohnette que no início
dos anos 80 redescobriu os standards para o Jazz. Este grupo ainda perdura,
tendo feito nos anos 90 um álbum absolutamente notável: “Live
At The Blue Note”. Já nos anos 90 o jovem Brad Mehldau recuperaria
uma forma melódica de aproximação ao piano que muitos
classificariam próxima de Bill Evans. “The Art Of The Trio” consagrou
o trio com o baixista Larry Grenadier e o baterista Jorge Rossy. O Volume 3
da saga é uma obra-prima. The Bad Plus, assim se chama o terceiro trio
que refiro, composto pelo piano de Ethan Iverson, Reid Anderson no baixo e
as baquetas de David King, aparecido já neste século. The Bad
Plus fazem toda a diferença pela atitude irreverente e desconcertante,
que se revela mesmo no repertório que se expande pelo rock ou Ornette
Coleman. Os Black Sabath, Pixies, Blondie ou os Nirvana estão também
entre os convocados, mas a sua abordagem é obviamente jazzy para além
do “folclore”.
Enfim, o quarto grupo é outro exemplo notável, o único
europeu, mais exactamente sueco, e dá pelo nome de Esbjörn Svensson
Trio, ou EST. Surgidos também no anos 90, os EST combinam uma profunda
erudição com irreverência e um conhecimento do Jazz únicos.
Apesar da quase totalidade das composições dos nove CDs e um
DVD pertenceram a Svensson, a verdade é que este é também
um verdadeiro trio isósceles, pois inequivocamente os arranjos são
construídos para estes músicos (Svensson mais Dan Berglund no
baixo e Magnus Oström na bateria) e não outros. Sente-se. A componente
rítmica é neste grupo fundamental, e é partilhada pelos
três, obsessiva e hipnótica, como só encontramos paralelo
em alguns momentos de Keith Jarrett (Blue Note, Köln Concert).
Viaticum, de 2005 é atravessado por esta urgência rítmica
que nunca nos deixa indiferentes. “The Unstable Table…” é verdadeiramente
obsessivo, com um Berglund alucinado num arco sublinhado pela electrónica,
enquanto que “Viaticum” nos traz a quietude da tundra. Nenhum meio é desprezado
no imaginário EST. A pop e o rock convivem com a folk, o Jazz e a música
clássica sem preconceitos. Bill Evans contracena com Beethoven, que
conversa sobre Chic Corea enquanto ataca um trecho de Bach; tudo sob a supervisão
de Jimi Hendrix e Miles Davis. Eles reescrevem a palavra modernidade todos
os dias e o seu universo de referência é tão vasto quanto
o universo que a música mais livre do mundo (o Jazz) lhes permite.
Leonel Santos